sábado, julho 30, 2005

Pena Capital

Estará hoje nas bancas, e pela última vez, a edição do jornal A Capital. Já com longa história, há muito que as dificuldades ensombravam a vida deste jornal. Em 2001 foi adquirido pelo grupo Prensa Ibérica, o que deu novo alento a toda a equipa de A Capital. Em 2004, Luís Osório assume a direcção do agora matutino. De um jornal descaracterizado, pouco a pouco surgem melhorias: o grafismo é melhorado, o posicionamento revisto – de um jornal “local” para um nacional - os textos são mais cuidados. A visibilidade do título cresce. A redacção e a direcção assumem posições inéditas no jornalismo nacional: na eleição à presidência dos EUA, apoiam abertamente o candidato democrata dos EUA – John Kerry – contra o então presidente e seu opositor George W. Bush. Recentemente, o jornal assume se como o primeiro órgão de informação a desmentir a versão oficial do “arrastão” da Praia de Carcavelos.
As vendas não acompanham de forma desejada a melhoria evidente do matutino. No entanto é notório a inversão do ciclo de sucessivas quebras de vendas: em 2003, 5697 exemplares, 2004, 3614, e o primeiro trimestre de 2005, 3422 exemplares. Em Junho, o principio do fim: o então director – Luís Osório e director Adjunto afastam se (ou são afastados) por falta de entendimento acerca da estratégia futura e meios para a sua implementação. Luís Osório afirmava ontem na rádio TSF a falta de solidariedade da administração (que segundo ele, de 2001 a 2005, apenas conseguiu contactar por três vezes) e falta de aposta no projecto como causas reais do encerramento.
As relações humanas necessitam de tempo, entrega e dedicação para a “obtenção” da afectividade e intimidade desejadas.
Com as empresas acontece muitas vezes o mesmo para a obtenção do ambicionado retorno financeiro. A entrega e a dedicação são o fruto de todos os que estejam envolvidos no projecto e acreditem no mesmo.
Já o tempo, esse já não depende de todos.E nos dias que correm, tempo é coisa que não abunda...

sexta-feira, julho 29, 2005

A esperança

O resultado das eleições na Guiné Bissau ditou a vitória de “Nino” Vieira. O candidato vencido, Malam Bacai Sanhá pediu recontagem de votos. O passado do novo presidente da Guiné Bissau é conhecido. Chegou ao poder em 1980 através dum golpe militar; foi afastado em 1999 por novo golpe militar protagonizado por Ansumane, outrora seu aliado. A Repressão, corrupção, fome e sangue foram as marcas dos seus 19 anos de poder. Após o seu afastamento, Portugal e o Major Valentim Loureiro deram guarida a “Nino”; Bissau equacionava acusa-lo judicialmente pelos crimes cometidos contra os Guineenses. Em Maio deste ano, o Supremo deu luz verde à sua candidatura, quando a constituição deixava claro que nesta eleição, jamais poderia candidatar se. Recolhe o apoio de Kumba – antigo presidente deposto pela via militar - na segunda volta das presidenciais. A esperança é a ultima coisa a morrer diz o ditado popular. Na Guiné Bissau, se já não havia muito por destruir, a esperança sofreu hoje um duro golpe.

quarta-feira, julho 27, 2005

"Aposte na felicidade"

Era (ainda é?) este o slogan, há meses atrás, dos jogos da Santa Casa da Misericórdia. Por sinal, bastante bem conseguido. Vem isto a propósito do mais recente jogo: o Euromilhões. Li algures no Público desta semana que os portugueses são dos que mais participam neste jogo, senão mesmo os que mais participam. Nos inquéritos de rua publicados no jornal Público, à pergunta de hoje "já jogou esta semana?", um dos inquiridos terá respondido qualquer coisa como "Ainda não, mas vou fazê-lo. Tou farto desta vida!". Resposta contundente. E andamos muitos fartos desta vida. Ao ponto do Euromilhões ser o sonho e escape para "outra" vida. Gostaríamos de termos outras condições de trabalho, outro trabalho, de gostarmos daquilo que fazemos, de ganhar melhor, de não fazer contas aos tostões, e de não ter de enfrentar horas de filas encaixotados nos transportes a ouvir as vozes habituais de "antigamente não era assim".
Andamos cansados e fartos desta vida. Mas semanalmente, aquando do sorteio do Euromilhões, guardamos uma secreta esperança que as apostas feitas nos dêem a "outra" vida e "outra" felicidade que tanto sonhamos.

terça-feira, julho 26, 2005

Eles falam falam

Segundo estudo da Autoridade da Concorrência publicado na imprensa, Portugal tem as chamadas telefónicas mais caras da UE. Os preços praticados no nosso país são 62% mais caros quando comparados com a Europa dos quinze e 151% quando comparado com o Luxemburgo, país com os preços mais baixos. Esta relação mantém-se quando falamos de acesso à Internet via banda larga; os preços praticados em Portugal estão 62% acima da media e cinco vezes superior ao acesso menos dispendioso (Alemanha). Apenas nas chamadas efectuadas através de telemóveis de cartão pré pagos, Portugal apresenta custos inferiores em 43% à media Europeia. Em declarações à rádio TSF, a Portugal Telecom – operador que detém a maior quota de mercado ao nível do fixo, para não dizer o monopólio encapotado das comunicações fixas- através do seu gabinete de comunicação, mostrou se indignada pela inexactidão do estudo. Os dados apresentados no estudo não são absolutos mas relativos, isto é, o estudo não deveria ter em conta o nível de vida da população portuguesa. Deduz se portanto que segundo a PT , o estudo deveria comparar os valores brutos cobrados em cada país, e ponto final. Sem qualquer tratamento desses números face à realidade e custo de vida de cada país. Portanto seria comparar dados incomparáveis. Espantoso...

Combater a seca da crise (ou será a crise da seca?)

Pelas razões expostas num post anterior, uma das formas de combater, ou melhor, ficar ao lado da "crise" é seguramente ser accionista maioritário dum Banco. Como não é o caso aqui do casimiro, outra forma será certamente manter a confiança e a boa disposição. E é impossível não ficar bem disposto após um audição ao mais recente registo musical de Lesli Feist (em nada está relacionado com o dirigente do CDS PP, Pedro Feist). Chama-se "Let it die", catalogam no como sendo música alternativa mas para mim é mais um registo easy listening: registo suave e agradável. Audição vivamente aconselhada. Ouçam os mimos "mushaboom" e "gatekeeper". Aqui deixo uma das capas existentes, para não perderem de vista.

segunda-feira, julho 25, 2005

"Ainda me lembro..."

Segundo o negocios.pt de hoje, as bolsas europeias andaram agitadas - positivamente agitadas, entenda-se- em virtude dos ganhos obtidos pelas empresas de telecomunicações e petrolíferas.
As petrolíferas terão obtido oscilação positiva em virtude dum estudo entretanto divulgado que estima que a cotação do petróleo continuará acima dos 50 dólares por barril até 2010.
Eu que alimentava o sonho de voltar a pagar menos de 1 € por litro de sem chumbo 95, parece que só depois de 2010.
Esta notícia fez me recordar um antigo anúncio de TV a produtos alimentares no qual uma velhinha recordava o preço de "antigamente" dum determinado bem. Era qualquer coisa como "ainda me lembro...".
Ora aqui o casimiro que não é assim tão velho quanto isso, "ainda me lembro do preço" do barril de petróleo a 22 dolares, e já nessa altura era escandalosamente caro. Um crescimento em poucos anos de 22 dolares para 50 dolares, ora isso dá... é fazer as contas, como dizia o outro.

A "crise"

O jornal Público da passada sexta feira noticiava uma aumento do lucro semestral do Banco BPI em 22%. O banco espanhol Sabadell, em que o BCP detém uma participação de 3%, noticiava no mesmo dia e no mesmo orgão de informação um aumento dos lucros semestrais de 30% (!).
Mais modestos foram os lucros semestrais do BCP, conforme noticiado no negocios.pt que cresceram "apenas" 2% para 302,9 milhões de euros mas crescendo 21,1% em termos comparáveis. Segundo mesma notícia, verificamos que tais lucros só foram possíveis graças à redução de 1000 postos de trabalho.
As indicações de lucros do Banco BES rodam um aumento, para o segundo trimestre deste ano de 90% (!). Não me enganei no número. São noventa por cento. Ainda no negocios.pt, citando "nos primeiros três meses de 2005, as empresas cotadas tiveram um trimestre genericamente positivo. No conjunto das 47 empresas cotadas - excluindo o Santander, o Espírito Santo Financial Group e a Orey Antunes - os lucros atingiram os 835 milhões, uma melhoria face a igual período do ano transacto de 54,6%".
Acho que os números apresentados são suficientes. Não deixa de causar perplexidade que em tempos de suposta crise as empresas financeiras apresentem lucros que oscilam entreos 22%, 54% e 90%. Mais do que propriamente os lucros apresentados, são as percentagens de crescimento que causam verdadeira perplexidade.
Quais serão as perspectivas de crescimentos do BES quando a conjuntura for favorável? 300% de aumento dos lucros ?
Naturalmente que estes números chocam com outros números: os cerca de 500 mil desempregados existentes no nosso país e a difícil situação financeira de famílias e PME´s.
Enfim...estes números põem a nu o que já todos sabíamos, mas que vale a pena sempre recordar...: a "crise" nunca é para todos.

Cá dentro inquietação...

Mentes inquietas: esta é certamente a característica que une os editores deste blogue. Sem ambições nem propósitos de este ser um espaço diferente, pretenderemos apenas partilhar entre nós e com quem a nós se quiser juntar, as inquietações de estarmos neste tempo, nesta sociedade, neste mundo. Partimos assim hoje para esta viagem...com alguns destinos definidos - a política, a sociedade, a cidadania, a música – outros que irão naturalmente surgindo... e com lugares marcados: psn, joão, urso, mariana e casimiro. Há naturalmente espaço para quem queira comentar as inquietações aqui deixadas...Para nós e para vós... boa viagem à inquietação!