Em Portugal, o dia em que se deu esse fim foi o do lançamento do livro de João Rendeiro, que tinha como subtítulo “A história de quem VENCEU nos mercados”, assim com aquele VENCEU destacado a cor diferente na capa. Sabemos hoje que o banco de João Rendeiro já estava falido quando o livro chegou às estantes. Nem todos os países hão-de ter tido momento tão simbólico como o nosso, mas todos assistiram ao mesmo fim.
A predominância do mito do executivo era quase universal e dominou as últimas décadas. Lembrem-se bem: estes senhores apareciam em capas de revistas e livros dedicadas às suas qualidades de semi-deuses. Nas horas vagas, por pura bondade, explicavam-nos o que deveríamos fazer aos nossos países, universidades ou pensões de reforma (obviamente, geri-las como executivos). Eles eram perfeccionistas; sabiam nos mais ínfimos pormenores tudo o que se passava nas suas empresas; dominavam equipas e motivavam colaboradores; arriscavam (normalmente com a vida e os empregos dos outros) e venciam. Ou seja, eram em tudo o oposto daquilo que eles próprios nos tentam convencer hoje que afinal eram: desorientados, ingénuos e confiantes em demasia.
BCP, BPN e BPP são as abreviaturas nacionais do fim de um mito planetário. O mito do executivo morreu pela sua crença desenfreada em si mesmo (...)
Extraído de crónica de Rui Tavares
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